segunda-feira, 22 de junho de 2015

Paçoca de meia tonelada serve 20 mil pessoas em arraial de Boa Vista

Iguaria de carne seca foi servida no domingo (21), no 'Boa Vista Junina'.
Prato custou R$ 10 mil; prefeitura pretende entrar no livro dos recordes.

Inaê Brandão (*)Do G1 RR
Meia tonelada de paçoca foi servida para 20 mil pessoas  (Foto: Jackson Félix/G1 RR)Meia tonelada de paçoca foi servida para 20 mil pessoas (Foto: Jackson Félix/G1 RR)
Duzentos quilos de farinha de mandioca, 400 quilos de carne seca, 120 quilos de cebola e 60 litros de óleo. A mistura desses ingredientes de proporções enormes deu origem 'a maior paçoca de carne seca do mundo', segundo a prefeitura de Boa Vista. O prato custou R$ 10 mil aos cofres públicos da capital e foi a atração principal da última noite do 'Boa Vista Junina'.
Com aproximadamente 500 quilos, a paçoca, prato tipicamente roraimense, foi servida gratuitamente no domingo (21) para cerca de 20 mil pessoas presentes da 15ª edição do arraial, conforme contabilizou a Secretaria de Comunicação do Município.
A produção da iguaria começou na comunidade indígena do Bananal, no município de Pacaraima, Norte do estado. Lá, quatro famílias trabalharam na elaboração dos 200 quilos de farinha, que vem da mandioca. A produção do alimento é a principal fonte de renda da comunidade. Das 42 famílias que vivem em Bananal, 35 produzem farinha.
Em Boa Vista, a farinha e a carne seca, fornecida pelo comércio local, foram trituradas no sábado (20) na cozinha industrial do Serviço Social da Indústria (Sesi). No domingo a cebola e o óleo foram acrescentados ao prato.
A paçoca foi feita em uma cozinha industrial em Boa Vista e a produção durou 48h (Foto: Jackson Félix/G1)A paçoca foi feita em uma cozinha industrial em
Boa Vista e a produção durou 48h
(Foto: Jackson Félix/G1)
Maria Perpétua Mangabeira, conhecida como 'Tia Nega', é uma das 'paçoqueiras' mais tradicionais de Boa Vista e trabalha no ramo há 22 anos. Ela, João Carlos e Raimundo Nonato foram responsáveis por coordenar uma equipe de 15 pessoas em uma cozinha industrial na produção da paçoca. O trabalho durou 48 horas.
"Esta foi a primeira vez que fiz o prato com essas proporções. Foi uma honra trabalhar em um projeto desse que e poder divulgar no maior arraial da amazônia um dos pratos mais tradicionais do estado", comentou Tia Nega.
No domingo, às 20h (horário local), os frequentadores do arraial puderam finalmente provar a iguaria. Cem pessoas trabalharam na distribuição das 20 mil porções de paçoca que, segundo a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), foi o bolo de celebração dos 15 anos do arraial.
Cleberson Cunha e a esposa aprovaram a paçoca (Foto: Jackson Félix/G1 RR)Cleberson Cunha e a esposa aprovaram
a paçoca (Foto: Jackson Félix/G1)
"É uma maneira da gente comemorar com a nossa tradição. A paçoca tem uma história e o nosso bolo dos 15 anos é a maior paçoca do mundo", disse Teresa.
Para a distribuição do alimento, oito filas foram formadas. A estudante Cíntia Oliveira foi uma das primeiras a comer a paçoca. Depois de esperar 30 minutos na fila, ela disse que ficou satisfeita. "A paçoca está muito saborosa. Valeu a pena a espera na fila", comentou.
Cleberson Cunha, que chegou pouco depois do início da entrega, contou que a distribuição da paçoca valoriza a cultura local. "O legal dessa ação no arraial foi a valorização da cultura de Roraima. Além disso, a paçoca está muito bem feita", afirmou.
20 mil porções foram destribuidas ao público do 'Boa Vista Junina' (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)20 mil porções foram destribuidas ao público do 'Boa Vista Junina' (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
'Maior paçoca do mundo'
Segundo a prefeitura de Boa Vista, a quantidade de paçoca de carne seca servida no arraial é a maior já distribuída no mundo. A prefeitura informa que entrou em contato com o Guinness Book – o livro dos recordes, para que o registro seja realizado. "Estamos documentando todos os paços da produção e esperamos estar no livro edição de 2016", informou a secretaria de comunicação do município.
Professor e pesquisador da UFRR Celino Raposo (Foto: Jackson Félix/G1)Professor e pesquisador da UFRR Celino
Raposo (Foto: Jackson Félix/G1)
Alimento de origem indígena
De acordo com o coordenador do Instituto de Formação Superior Indígena Insikiran, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Celino Raposo, não há pesquisas científicas sobre a paçoca de carne seca. No entanto, o professor garante que o prato é originário dos povos indígenas. Segundo ele, em Roraima surgiu com os índios Macuxi.
"Os índios já faziam a paçoca há muito tempo. Primeiro eles furavam a superfície da terra e depois faziam um buraco numa espécie de madeira e enterravam essa madeira no chão. Após isso, eles colocavam a carne no equipamento, e com um outro pedaço de madeira a esmagavam até desfiar", relatou.
O professor destaca que a forma de se fazer paçoca no equipamento arcaico foi modificada com o tempo. Ela começou a ser feita no pilão, moinho e até mesmo no liquidificar. Ele atribui as mudanças aos não-índios. "A carne era esmagada e acrescentavam sal e pimenta verde. Era uma forma de preservar o alimento. É um costume dos antigos, mas não há uma data certa de quando se originou. Hoje é servida com variadas forma de produção", frisou.

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