quinta-feira, 11 de junho de 2015

De terno e gravata, taxista investe em serviço VIP para fidelizar clientes

Em Curitiba, táxi toca música instrumental, e passageiro ganha lembrança.
Atendimento de qualidade faz com que taxista ganhe até R$ 60 em gorjeta.


m carro confortável, balas, revistas, música instrumental, limpeza impecável e um motorista em traje social. Quem entra no táxi de Cesar Bueno, de 61 anos, percebe imediatamente que a viagem terá um toque refinado – com direito a lembrança do final da corrida. Na profissão há 33 anos, ele decidiu investir na qualidade do atendimento para se diferenciar no mercado e assim fidelizar clientes.

A iniciativa, que deu o caráter VIP ao serviço, visava apenas cativar os passageiros, porém se demonstrou um mecanismo para aumentar a renda. “Eu tenho um gasto por mês de R$ 150, no máximo, com essas coisinhas. Por dia de trabalho, por eu trabalhar desta forma, eu ganho de R$ 50 a R$ 60 em gorjeta. Se eu não faço esse atendimento, eu não ganho esse dinheiro”, contou Bueno.

As lembrancinhas – uma caneta para os homens e uma lixa de unha para as mulheres – são fornecidas pela rádio táxi a qual Bueno é associado.

O taxista faz questão de descer do carro e abrir a porta para os passageiros tanto no início quanto no fim da corrida. “Não importa se é homem, se é mulher ou criança... Está me pagando, estou fazendo o meu serviço”, comentou o taxista.
Taxista oferece bala, revista, e no carro só toca musica instrumental (Foto: Bibiana Dionísio/ G1)Taxista oferece bala, revista, e no carro só toca
música instrumental (Foto: Bibiana Dionísio/ G1)
Cada detalhe, do local onde ele coloca as balas até a trilha sonora, é pensado para atingir o objetivo de prestar um serviço de qualidade diferenciada.

“A música instrumental, tanto faz se é clássica ou música popular brasileira, agrada a todos. Ela se torna uma música ambiente, é muito difícil uma pessoa que não goste”.
Agora, se o passageiro preferir outro estilo musical, Bueno está preparado. Ele tem um pen drive com diversas músicas e coloca aquela que é do gosto do cliente.
De acordo com Cesar Bueno, o elogio é garantido. Todos os passageiros percebem o empenho dele em oferecer um carro confortável e um atendimento de qualidade.

“O pessoal fica criticando que eu coloco um Honda Civic na praça, mas eu penso também, em primeiro lugar, no meu conforto - eu fico mais dentro do carro do que na minha casa. E, em seguida, no conforto do meu cliente”.

Em todos esses anos de profissão, o taxista construiu uma carteira com 30 clientes que só pegam táxi com ele. Essas pessoas ligam diretamente para o celular do Bueno. “São clientes que não importa o tempo que eu levo para ir atender, eles me esperam. Neste grupo tem clientes que me pagam por mês”, contou o taxista.

Visão empreendedora
A decisão de reformular o serviço, de mudar a forma como atender o cliente é o que os especialistas chamam de inovação. O professor universitário Samir Bazzi, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fae, destaca que Cesar Bueno teve visão de negócio quando anos atrás agiu para agregar valor ao serviço prestado.
 
Decidi mostrar para o cliente que em todo lugar tem os maus e os bons, e que eu faço parte dos bons"
Cesar Bueno, taxista
“Ele não pode mudar o preço, que é tabelado. É o preço da corrida e pronto. Então, ele oferece algo a mais e nisso ele acaba cativando o cliente. O que ele faz hoje é uma tendência de mercado”, afirmou o professor.

Bazzi afirma que em qualquer área é possível inovar. Segundo o professor, é o famoso “pensar fora da caixinha, fazer diferente”.
“Não existe limite. Em praticamente tudo a gente consegue colocar um pouco de inovação, e, em especial, para os autônomos, em um momento de crise, pode virar questão de sobrevivência”.

O início
O taxista sentiu que precisaria apostar em um diferencial logo que começou na profissão. Quando comprou o táxi, Cesar Bueno tinha outro emprego e deixava o carro com outro motorista. Ele só fazia corridas nos dias de folga, fim de semana e feriados. À época, ele já exigia dos funcionários que cuidassem da aparencia e que mantivessem o carro sempre limpo.

“Na época, realmente, existia muito mau elemento na praça. Até assaltante tinha dirigindo táxi, eu até sentia vergonha de ser taxista, devido à má fama. Então, decidi mostrar para o cliente que em todo lugar tem os maus e os bons, e que eu faço parte dos bons”.
Atendimento diferenciado faz com que taxista ganhe até R$ 60,00 em gorjeta por dia,  (Foto: Bibiana Dionísio/ G1)Atendimento diferenciado faz com que taxista ganhe até R$ 60,00 em gorjeta por dia, (Foto: Bibiana Dionísio/ G1)

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