segunda-feira, 15 de junho de 2015

Após greve, alunos de SP reclamam de proposta de aula aos sábados

Reposição de aulas também pode ocorrer nas férias.
Aula aos sábados prejudica quem faz cursinho e trabalha, dizem alunos.

Letícia Macedo e Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo
Após 3 meses em greve, os professores da rede estadual de ensino de São Paulo decidiram suspender a paralisação na sexta-feira (12), sem conseguir reajuste salarial, e retornaram às escolas nesta segunda-feira (15). Depois de perderem aulas, os alunos ainda não sabem como irão repor o período de greve. Eles reclamam das propostas de reposição aos sábados e nas férias.
Segundo o governador Geraldo Alckmin, nas escolas onde as aulas foram prejudicadas vai haver reposição. “As escolas que não tiveram aulas vão ter reposição o mais rápido possível, pode ser durante as férias escolares ou pós-aula, no fim do ano. A Secretaria da Educação está fazendo o planejamento", afirmou.
Ele acredita, no entanto, que o impacto na rede de ensino não foi grande. "Quase não teve falta em razão dos substitutos. Professores efetivos quase não participaram da greve e, quando participaram, foram substituídos", disse Alckmi
Os alunos da escola Dr. Alarico Silveira, na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, estão preocupados com a proposta de reposição aos sábados, o que prejudicaria quem faz cursinho ou trabalha.
Aluna comenta sobre reposição de aulas  (Foto: Letícia Macedo/G1)Aluna comenta sobre reposição de aulas (Foto: Letícia Macedo/G1)
Uma estudante de 15 anos, do 1º ano do Ensino Médio, disse que a proposta de vir aos sábados encontra resistência. “Os alunos não querem vir aos sábados porque a nossa obrigação é vir de segunda a sexta”, afirma.
Segundo ela, durante a paralisação, eles ficavam na escola sem atividades pedagógicas. “Na maioria das aulas a gente ficava no pátio. Para ir embora, tinha que chamar os pais para eles liberarem”, conta. Ela disse que não concorda com a greve. “Eles merecem aumento. Como conseguir sem greve? Eis a questão”, declarou. 
Se ele [professor] der trabalhos, tudo bem, eu acho um tempinho. Se for de sábado não vai dar para vir porque eu tenho cursinho"
Bruna Lima, 18, aluna do 3º ano do Ensino Médio
Bruna Lima, de 18 anos, está no 3º ano do Ensino Médio, e ficou sem aulas de filosofia. “Prejudicou mais ou menos. Agora tem que ver como vai repor. Se ele der trabalhos, tudo bem, eu acho um tempinho. Se for de sábado não vai dar para vir porque eu tenho cursinho”, afirma.
Alunas de duas classes do 2º ano do Ensino Médio ficaram sem aulas de filosofia e biologia durante os 92 dias de paralisação. “Eu não apoio porque depois a gente tem que repor”, disse uma aluna de 16 que pediu para não ser identificada.
A possibilidade de ter férias mais curtas em julho também não agrada aos alunos. “Talvez tenhamos que vir 15 dias a mais. Eu não concordo, mas vamos ter que vir”, afirmou Sheila dos Santos, de 15 anos, do 1º ano. do Ensino Médio.
Nos muros da escola, que fica na Rua Conselheiro Brotero, é possível ver algumas pichações com as frases: “Seu filho está sem aula? Cobre do governador Geraldo Alckmin” e “Quem luta educa”.
Fachada da escola na Zona Oeste (Foto: Letícia Macedo/G1)Fachada da escola Dr. Alarico Silveira, na Zona Oeste, com a frase 'Quem luta educa' escrita durante a greve (Foto: Letícia Macedo/G1)
A reposição de aulas também deixa os alunos da Escola Estadual Sapobemba, em Sapobemba, na Zona Leste da cidade, inquietos. A escola estuda repor as aulas perdidas durante o período de férias, das 9h às 16h.
Luana Duque, de 12 anos, que estuda na oitava série do Ensino Fundamental conta que ficou por cerca de 45 sem aulas de quatro disciplinas.
"Eu acho que é o justo lutar pelo o que eles querem, mas sem prejudicar os alunos", diz a aluna. Sua mãe, a assistente de cobrança Jocilaine Duque, de 44 anos, reclama da paralisação e de uma das alternativas apresentadas para a reposição de aulas. "Não concordo porque todos esses meses ela levantou cedo e veio para a escola. Agora na época que ela ia ter pra descansar vai ter que estudar", afirmou.
A mãe também teme pela segurança da filha. "Ela estuda das 7h ao 12h20 e vai estudar das 9h às 16h, um horário totalmente diferente. Quem vai trazer às 9h?", questiona ela que leva a filha diariamente pra escola antes de ir para o trabalho.
Os colegas Matheus Alencar, de 16 anos, e Gabriele Vasconcelos, de 13 anos, que cursam a oitava série, contam que durante a greve tiveram apenas metade das aulas programadas e ficaram com notas vermelhas no boletim por falta de professores.
Aluno entra na escola estadual em Sapopemba (Foto: Tatiana Santiago/G1)Aluno entra na escola estadual em Sapopemba (Foto: Tatiana Santiago/G1)
Os jovens contam que ficavam dormindo ou conversando na classe durante as aulas vagas, já que tinham que permanecer na escola e não tinham o que fazer. Eles ainda não foram informados de como será a reposição. "Terça a gente vai ter prova de matemática e não temos matéria pra estudar. A prova vai ser no chute", brinca Matheus.
"Se a gente for prestar um vestibular, a gente não vai ter base para fazer", disse o jovem.
Já Gabriele conta que chegou a ter aulas com professores substitutos, mas de disciplinas que eles estavam tendo aulas. "Acho que estou sendo muito prejudicada nas minhas notas porque nesse semestre eu fiquei com quatro vermelhas, coisa que nunca aconteceu antes", lamenta.
Ketllyn de Oliveira, de 15 anos, aluna do primeiro ano do Ensino Médio conta que ficou sem 8 das 12 aulas que deveria ter tido nos últimos meses. "Esse bimestre a gente não aprendeu nada", conta.
Aluna comenta sobre reposição de aulas (Foto: Tatiana Santiago/G1)Aluna comenta sobre reposição de aulas (Foto: Tatiana Santiago/G1)
A aluna Stefani Leite Ribeiro,de 16 anos, que cursa o segundo ano do Ensino Médio, conta que ftambém ficou sem muitas aulas durante a greve:6 das 12 disciplinas da grade curricular. A estudante que deseja fazer faculdade de pedagogia lamenta a falta de aprendizado e acredita que entrar na faculdade será mais difícil. "Perdi muita matéria". Ela acredita que a greve foi um fracasso. "Essa greve nem deveria ter começado, porque ela acabou sem os professores conseguirem o que queriam", disse.
A mãe Ana Maria Leite, de 48 anos, acredita que a filha não conseguirá recuperar o tempo perdido. "Eu acredito que não vai ter tempo hábil para repor, ficou muito tempo parado. Minha filha faz curso de inglês aos sábados e pode prejudicar o curso", disse.
Agora, a família terá que mudar os planos de férias, já que não poderão mais viajar. "A gente não vai poder nem planejar nada, já que não foi definida ainda como será a reposição", justificou.
Reivindicações da greve
Os professores reivindicavam 75,33% para equiparação salarial com as demais categorias com formação de nível superior. O governo do estado diz ter dado reajuste de 45% no acumulado dos últimos quatro anos. Além disso, informa que parte da categoria receberá até 10,5% de aumento de acordo com desempenho em avaliação. Não houve proposta de reajuste geral para toda a categoria.
Assembleias e protestos
Entre assembleias, protestos em frente à Secretaria Estadual da Educação e bloqueios de rodovias, a categoria realizou ao menos 24 manifestações durante os 92 dias parados. A assembleia desta sexta-feira foi a 13ª desde que a greve foi declarada, em 13 de março.
A resistência não pode ir além da sobrevivência dos professores"
Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp
A greve já dava sinais de enfraquecimento. Na assembleia anterior, em 3 de junho, não houve consenso na primeira votação sobre o destino da greve. A segunda votação, que decidiu pela continuidade, foi acirrada.
A presidente do sindicato da categoria (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, indicou, antes da votação que decidiu pelo fim da greve nesta sexta, que ele já era cogitado. "A resistência não pode ir além da sobrevivência dos professores", disse.
Professores votam pelo fim da greve na categoria após 92 dias (Foto: Peter Leone/Futura Press/Estadão Conteúdo)Professores votam pelo fim da greve na categoria (Foto: Peter Leone/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Maria Izabel lamentou o fim da greve, mas disse que estava cansada. Ela afirmou que o governo teve uma grande derrota política. "Foi uma greve de resistência, que foi virando uma greve pela sobrevivência. É hora de parar, fazer um balanço. Professores têm família e contas a pagar. É lamentável que a greve tenha terminado sem constituir reajuste, mas o governo também deve fazer o seu balanço e também tem o seu preço", falou Maria Izabel.
Ela afirmou que os professores vão fazer um grande movimento de defesa da escola pública. "Do jeito como está sendo tratada, a escola pública entrará em decadência."
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disse que "permanecerá atuando em parceria com os professores da rede estadual que, desde o início do movimento isolado de apenas um entre os seis sindicatos dos funcionários da educação, permaneceram em sala de aula comprometidos com os alunos".
Ainda segundo a Secretaria, "em eventual necessidade, o conteúdo será reposto alinhado ao compromisso prioritário da Secretaria com o direito incontestável que os estudantes têm de aprender. A paralisação teve baixa adesão histórica e, nesta semana, o índice oficial de comparecimento superou 98%."
"Vale ressaltar que, desde o princípio, a gestão garantiu a construção de uma nova política salarial, além da oferta de outros benefícios aos docentes. Foram 45% de aumento em quatro anos e consolidados os mecanismos de promoção por mérito e desempenho. O bônus por mérito chegou a R$ 1 bilhão."
Segundo o chefe de gabinete da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Fernando Padula, "cada unidade vai definir seu calendário de reposição", e não descarta a possibilidade de aulas em julho, dezembro e janeiro.
Greve mais longa da história
A greve dos professores da rede estadual paulista de ensino completou 83 dias em 3 de junho. Passou a ser a mais longa da história, segundo a Apeoesp, superando a greve de 82 dias realizada em 1989.
Segundo a entidade, a paralisação que tinha, até então, a marca de maior greve da história da Apeoesp, fundada em 1945, foi decretada em 19 de abril de 1989 e durou até 7 de julho do mesmo ano. A entidade considera ainda na conta outros dias que a categoria participou da greve geral naquele mesmo ano.
Professores se reúnem no vão livre do Masp nesta sexta-feira.  (Foto: Glauco Araújo/G1)Professores se reúnem no vão livre do Masp nesta sexta-feira. (Foto: Glauco Araújo/G1)
Cortes de ponto
O governo de São Paulo e a Apeoesp disputaram judicialmente durante a greve os salários a serem recebidos pelos professores. Em 7 de maio, a Apeoesp conseguiu uma liminar que obrigava o governo a pagar os professores pelos dias parados. No dia seguinte, a liminar foi cassada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em 13 de maio, Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que o governo estadual parasse de registrar faltas injustificadas aos grevistas e descontar os dias parados. O governo recorreu da decisão. Uma semana depois, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o desconto dos dias parados dos professores estaduais.
A Apeoesp apresentou um pedido ao Supremo Tribunal Federal para suspender a decisão, que foi negado pela ministra Cármen Lúcia em 21 de maio, em decisão divulgada no dia 22.
A ministra Lúcia não analisou o mérito do pedido, argumentando que a possibilidade de corte de salários de grevistas ainda seria analisada pelo STF. Ela negou o pedido dizendo que, como a Apeoesp não é parte na ação que tramita na Corte, não poderia usá-la para suspender a decisão do TJ-SP.
Radicaliza Bebel manifestação vão livre Masp professores (Foto: Glauco Araújo/G1)Professor pede para presidente da Apeoesp 'radicalizar' (Foto: Glauco Araújo/G1)

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