quinta-feira, 11 de junho de 2015

O que Dilma tem a aprender no Google

Quando estava no poder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi criticado severamente por sua política externa, conhecida como política Sul-Sul. Em vez de negociar acordos de livre-comércio que poderiam beneficar empresas brasileiras e contribuir para nosso crescimento com os maiores mercados do planeta, Lula preferiu se aproximar de seus primos ideológicos na América Latina (como Hugo Chávez, Evo Morales, Cristina Kirchner, Rafael Corrêa), lançar as bases da presença brasileira em países africanos governados por tiranos, envolveu-se na complexa negociação nuclear com o governo do então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad (um pária na cena internacional) e, a certa altura, parecia acreditar que seria o responsável pela costura de um acordo de paz no Oriente Médio. Era, obviamente, um delírio. Mas uma coisa é preciso reconhecer: Lula e seu chanceler, Celso Amorim, tinham uma visão de política externa. Acreditavam que, para o Brasil, a melhor estratégia era equilibrar o poderio americano global por meio de alianças com países menores, promover uma espécie de “união dos fracos” contra o “fortão”.

FOTO HOME - O presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff durante encontro na Cúpula das Américas, na Cidade do PanamáNo começo primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, parecia que ela seria mais moderna e pragmática, na defesa dos nossos interesses comerciais. Em vez disso, o Brasil se recolheu. Dilma viajava bem menos que Lula, mantinha relações sofríveis com seu chanceler, Antônio Patriota, e ficava em situação visivelmente desconfortável diante dos dignitários internacionais, em comparação com seu antecessor bonachão e carismático – “o cara”, nas palavras do presidente americano, Barack Obama. A política externa de DIlma parecia mais uma confusão. Algo, ainda que sutilmente, parece ter mudado neste segundo mandato. Com o auxílio do atual ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Dilma parece mais envolvida nos assuntos internacionais. Atingida no escândalo de espionagem digital promovida pelos Estados Unidos, ela fez até as pazes com Obama e apareceu ao lado dele na Cúpula das Américas, no Panamá (foto).

O primeiro sinal disso é a natureza de suas viagens ao exterior. Nesta semana, ela foi a Bruxelas com um objetivo claro: negociar um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Não se deve esperar grande coisa daí. Primeiro, porque a UE é extremamente protecionista e exerce abertura de mercados meio a contragosto, apenas em casos de necesidades evidentes. Segundo, porque o Mercosul está falido. As rusgas comerciais entre Brasil a Argentina, e a necessidade de aprovação argentina para qualquer tipo de acordo, acabarão por soterrar esperanças de abertura mais abrangente. Mas a ida a Bruxelas deixa clara a intenção do governo brasileiro. Assim como a aproximação entre Dilma e a China pode contribuir para ampliar nosso acesso a mercados e investimentos chineses. É bom para o Brasil que seja assim. Precisamos negociar com mercados relevantes e robustos, não com pequenas nações cuja economia não ultrapassa uma cidade interiorana de São Paulo. Melhor, seguindo a máxima de qualquer bom comerciante, vender para quem tem dinheiro, não é mesmo?

A viagem mais esperada Dilma fará no final deste mês, aos Estados Unidos. Depois da crise provocada pelas revelações de que ela fora espionada pela Agência Nacional de Segurança (NSA) e do cancelamenteo da viagem prevista para 2013, finalmente as relações com os americanos parecem ter entrado em um rumo mais promissor. É menos importante o que Dilma e Obama conversarão na Casa Branca, pois, quase em fim de mandato, ele já está prestes a se transformar naquilo que a imprensa americana chama de “pato manco”. Mais importante são os contatos comerciais entre empresários e a construção de uma agenda que nos permita atingir o maior mercado do planeta.

Os americanos têm muito a nos ensinar no que diz respeito ao empreendedorismo e ao ambiente de negócios. Por isso, o mais louvável na agenda de Dilma é sua intenção de visitar o Vale do Silício, na Califórnia, em especial a sede do Google. Dilma e o Vale do Silício são resultado da mesma circunstância histórica, a revolução nos costumes dos anos 1960. Enquanto a geração de Diilma pegava em armas para combater a ditadura no Brasil, um grupo de engenheiros, liderados por Bob Noyce e Gordon Moore, deixava em 1968 a Fairchild Semiconductor – empresa fundada em 1956 no vale por William Shockley, o criador do transistor – para fundar a Intel, que se tornaria a maior fabricante de chips do planeta. Ao lado da Hewlett-Packard, do laboratório Parc, da Xerox, e de dezenas de outras empresas instaladas perto da Universidade Stanford, criou-se um ambiente de inovação técnica, investimentos de risco e ideais de um futuro digital. Foi nesse universo que o jovem Steve Jobs, influenciado pelos hippies e pela cultura indiana, produziu com seu sócio Steve Wozniack o primeiro computador pessoal para as massas. Foi nesse ambiente que se criaram dezenas de produtos digitais que transformaram nossas vidas – da placa de rede às redes sociais; do mouse à tela de toque do iPhone; dos chips de memória à busca do Google. Há muitos anos a economia da Califórnia supera a brasileira e atrai alguns dos maiores cérebros do planeta Terra.

A revolução comunista, idealizada pela esquerda brasileira dos anos 1960, foi um fracasso. Levamos muitos anos ainda para conquistar um mínimo de democracia e ainda nos falta muito em termos de liberdade. A revolução digital capitalista, idealizada na Califórnia dos anos 1960, transformou o mundo.

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